Desnormalizar o castrapo, uma tarefa

A sociedade galega, imersa no Estado espanhol, só recebe o “input” do castelhano, causando grandes problemas de substituição lexical, morfológica e sintática. As formas castelhanas ou coincidentes com o castelhano são as únicas que se acabam por transmitir, causando um enorme deterioro. A única forma de abrir um caminho diferente, é fazer uso das formas do nosso romance extranacionais, é dizer, de tomarmos como modelo a nossa língua e não a que a está a substituir.

Palavras como “guantes”, “palomitas”, “carretera” etc. são cada vez mais e mais frequentes. A perda de transmissão linguística, a incompetência das autoridades legisladoras da palavra, as políticas de anormalização e censura convocadas desde o poder político, entre outras coisas, estão a acelerar o processo de depauperamento, que cada vez é mais acusado, do galego. Abrir um segundo caminho, que favoreça a imersão na língua própria através das suas variantes, é o jeito de normalizar palavras galegas que cada vez se ouvem menos e que são cada vez mais estranhas a ouvidos do povo galego.

O castelhano e as instituições linguísticas galegas, que nos levam para uma total confluência com este, salvo determinados diferencialismos que eles acham “identitários” do povo galego, estão a resultar altamente prejudiciais. As ideologias e identitarismos têm de ficar fora do âmbito filológico. O estudo da situação sociolinguística não oferece outra saída se não é a volta às origens, de mãos dadas com Portugal, Brasil e o resto de comunidades que utilizam a nossa língua pelo mundo em diante.

Podemos viver com diferencialismos, o que não podemos é construir sobre eles e uma língua estrangeira, pois favorece o substituição linguística e a desaparição do galego. Não faz mal utilizar “luvas”, “pipocas” ou “estrada”, também não é mau utilizar “passeio”, “doente”, “portagem”, “achar” e um longo etc. Isto seria focar a atenção no que mais fácil solução tem, depois viria a questão morfológica. Onde se preferenciam “seguridade” e não “segurança”, “tarxeta” e não “cartão” etc. E, finalmente, e pode que o mais importante, a sintaxe. Este ponto, com certeza o mais complicado, requere uma análise demorada, onde deveríamos revisar a colocação dos pronomes, as proposições que aparecem por influência do castelhano e um longuíssimo etc.

Em resumidas contas, o único jeito de desnormalizar o castrapo, é abrir uma segunda via que permita as galegas e os galegos ouvir um galego diferente, um galego cada vez menos habitual e muito benéfico para mantermos o que é de nosso. Umas instituições realmente preocupadas pela língua, focariam os esforços numa convergência parcial ou total, onde fariam mais sentido os diferencialismos, mas na situação atual, o modo de obrar das instituições é totalmente errado. Estamos ante uma incapacidade não qualitativa, mas de visão, estamos não ante uma total irrelevância no seu trabalhar, mas ante uma ótica e uma focagem de prioridades errada. Cumpre nos esforçarmos e cumpre um trabalho em conjunto e agora. Cada minuto perdido deixa mais longe a possibilidade de uma recuperação. Que é mais importante, o ideologia/identidade individual ou a recuperação coletiva do nosso bem mais prezado? Falemos com a língua.

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