Dialetalismos e Diferencialismos

Devido à fragmentação dialetal do galego produzida pelo isolamento da população galega a respeito da portuguesa e, simultaneamente, das diversas localidades galegas entre si, a fala das diferentes zonas segue um rumo diferente, heterogéneo.

Enquanto Portugal estudava a sua língua e elaborava as suas normas (primeira gramática datada no século XVI), a Galiza, sem rei nem autonomia política de si, fica sem normativizar o galego até a década de 70 do século XX. Isto, sem obviar a censura linguística e o silêncio imposto durante séculos pelos que nos conquistaram e governaram. Como não é este o lugar para falarmos desta história, cujas origens e desvios pertencem ao campo da historiografia, continuaremos, pois, com o relevante e fundamental desta lição.

O galego sobrevive graças ao uso que lhe davam classes baixas, pois as altas foram substituídas ou se ajoelharam ante o poder estrangeiro que os dominara, esquecendo a língua dos seus antigos. Esta gente, à que lhe temos de agradecer termos, de momento, língua própria, mantinha em cada lugar as suas formas tradicionais e certas derivas que se deram com o passar do tempo. Isto é, cada zona tinha -e tem- léxico próprio, formas sintáticas, pronúncia etc. O que acabamos de afirmar cumpre-se tanto dentro da Galiza com as variedades internas, como com as externas fora dos limites geográficos da atual Galiza.

As teimas dos que tomaram o poder da normativização do galego e que se estabeleceram no poder institucional, impondo o seu critério e não atendendo a conselhos nem opiniões externas fora do seu círculo, decidiram preferenciar determinado léxico, determinada morfologia etc. É dizer, um modelo de galego segundo as suas preferências pessoais. Este galego consiste em escolher, sempre que puderem, palavras que só existam na Galiza. Isto é, de termos 5 termos galegos e de partilharmos 3 com o resto de territórios supranacionais, eles escolhem os dois diferentes. Este tipo de atitude, somada ao medo das pessoas de cair em castelhanismos, levam ao uso preferente e excessivo de diferencialismos. Os diferencialismos são palavras, neste caso galegas, que não coincidem com o galego falado no resto do mundo, só próprias de certos lugares da Galiza ou da sua prática totalidade.

Para pormos alguns exemplos e compreender o que acontece:


Dedicar/adicar: “Dedicar” é o verbo com mais sucesso dentro e fora da Galiza, tanto dentro do nosso romance, como no vizinho (castelhano). Ao existir a forma adicar, ainda que minoritária, muitas pessoas tendem a utilizá-la por medo a que “dedicar” seja um castelhanismo, quando não o é.
Desde/dende: Neste caso, ambas as formas são totalmente galegas, mas há um uso preferente da forma “dende” por cima de “desde”, podendo levar aos utentes da nossa língua a cair no problema anteriormente mencionado. É necessário informar e eliminar dúvidas deste tipo. O uso de qualquer destas formas é totalmente válido. Porém, também é necessário salientar que “dende” é uma forma que unicamente se utiliza na Galiza, por enquanto, “desde” é a utilizada no resto de países que falam a nossa língua e mesmo tem uso no romance central.
Raposo/golpe: Para os que não morem na zona de Lugo onde se utiliza “golpe”, o habitual é utilizarmos a forma “raposo”. Esta, para além de muito viva na oralidade, ainda faz parte de antropónimos. A primeira das palavras é utilizada por todos os utentes da nossa língua, a segunda por alguns muito específicos, como era o caso de “adicar” antes de se estender. Ambas as formas são corretas, mas quem utilize a segunda, deve saber também da existência da segunda e que esta é utilizada no resto do mundo. Não é bom deixar de utilizarmos uma forma por não ser coincidente se é o que está vivo na nossa zona, mas também não é bom desconhecer o que se passa fora da nossa casa.

Os dialetalismos são palavras próprias de zonas específicas da Galiza ou do resto de países que falam na nossa língua. A questão é que, como as instituições da Galiza querem viver das subvenções e outros lucros, não podem admitir que as demais variedades da sua língua são tal. Por isso dizem que estamos ante línguas diferentes. Em lugar de lhe chamar dialetalismos as formas próprias de zonas de Portugal, por exemplo, eles chamam-nas de “portuguesismos” ou “lusismos”, estabelecendo uma barreira política por meio, como se as línguas atendessem a critérios geográficos e não filológicos. De querermos criar barreiras, poderíamos também falar de “lugosismos”, “ourensanismos” ou mesmo “marinhismos”, já que estamos.

Em conclusão, qual é a diferença entre diferencialismos e dialetalismos? De fazermos esta questão, devemos reparar no anteriormente comentado. Há léxico em comum com todos os países da nossa fala, com uma coincidência que excede o 90% e temos menos de um 10% de palavras exclusivas galegas. Esse 10% de palavras são os diferencialismos a respeito da nossa língua em toda a sua abrangência e, dentro desse número pequeno de palavras, estão os dialetalismos próprios de cada zona. É negativo usar diferencialismos ou dialetalismos? Não, obviamente não o é, é positivo porque conservamos o acervo linguístico. Porém, é necessário refletirmos sobre a língua e depararmos em que, se saímos de casa, vamos ter de mudar certas formas próprias da nossa zona. Isto não ocorre só na Galiza, mas de visitarmos Portugal, o Brasil, ou qualquer outro sítio que tenha outra variedade linguística. É por tudo isto que a língua galega deveria de ser ensinada como o que é, uma enorme língua sem limites geográficos, uma língua diversa e variada, útil e necessária, tanto para nos comunicarmos entre nós, como para nos comunicar com pessoas fora do nosso círculo habitual.

Conhecermos a nossa língua dá-nos poder e permite-nos fazer escolhas à hora de falarmos ou escrevermos, ajeitando-nos a situações e lugares. Neste sentido, sabendo qual é o uso habitual das nossas palavras serve para melhorar a nossa comunicação, os nossos conhecimentos e amplia muito o nosso léxico, para além aprendermos estruturas sintáticas comuns noutras zonas ou mesmo que se estão a perder em galego, já que a proximidade do castelhano também está a afetar às estruturas sintáticas da nossa língua. Infelizmente, não há ser esta publicação na que fale deste outro tema. Abramos a nossa mente, façamos caminho e futuro.

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