Galego fácil, o galego em castelhano

A escrita do galego que promove a Junta da Galiza, em concordância com a Academia Gallega, toma como base o castelhano. Isto longe de ser discutível, é um facto mais do que assente. A dissolução do galego no castelhano desde as instituições está em andamento desde a década de oitenta e as ideias que servem como escudo ante esta atrocidade linguística é:

– Língua que há que saber = castelhano.
– Se o povo sabe castelhano, o galego deve tomar este como referente à hora de se escrever.
– É mais fácil ensinar galego se tomarmos como base uma língua que tem de saber o povo, o castelhano.
– O povo galego é incapaz de escrever na sua língua se este tem uma norma de seu, deixando o castelhano para um lado.
– O galego é uma língua de Espanha, antes castelhano do que português.

Alguma destas ideias foi pronunciada por membros de Instituto da Lingua Galega no seu momento. Que podemos tirar em conclusão destas genialidades?

– O galego é uma língua de segunda, o importante é o castelhano.
– O galego não tem direito a ter uma norma não subjugada ao castelhano por teimas dos normativizadores, cuja ideologia/identidade está colocada no púlpito de Espanha e não com os pés na terra e o coração na Galiza. É dizer, que quem manda e ordena não quer nada bom para o galego, pois através da sua óptica filtra o que o povo completo deve acatar. E esta, longe dos caminhos filológicos, alicerça-se em ideias individuais e preconceitos vários.
– As galegas e galegos são ignorantes incapazes de aprenderem a sua língua própria sem recorrer ao castelhano, mas depois têm aulas de francês ou inglês, entre outras, cujas ortografias e gramáticas distam muito das do castelhano. Será que os que estabelecem as normativas têm amores grandes à língua de Cervantes e deixam de lado a própria, a que supostamente deveriam defender? Se as autoridades linguísticas seguem o mesmo caminho das políticas linguicidas espanholas, u-lo futuro do galego? Que sentido tem seguir as ordens destas autoridades que restam valor ao património que deveriam defender?
– Parece ser que o galego tem de tomar como referente o castelhano, a língua que o está a fazer desaparecer e cuja hibridação tem como resultado uma dialetalização nesta segunda língua. Desde um ponto de vista sociolinguístico a proposta mantida pela Academia Gallega é absolutamente contraditória. Defender sob a dialetização e a secundarização da nossa língua? Fazer escolhas que todos temos de obedecer tomando como referente o castelhano e fugindo de soluções comuns ao resto do nosso romance?
– O ódio ao português e a Portugal ante uma história de separação secular do ponto de vista político faz que a opressão por parte da Velha e da Nova Castela fique numa posição próxima à santidade. Será que é melhor odiar a quem se separou de nós mais do que os que nos “domaram e castraram”? Quem atinge os lugares hegemónico-institucionais está mais próximo do colonizado que quer converter a sociedade numa extensão da sua extinção como nativo numa identificação forânea e defensora de valores externos ou existe outra opção? O ódio ao próximo no cultural e linguístico é compatível com a adoração do estrangeiro colonizador e explica o porquê das escolhas linguísticas no referente ao léxico, ortográfico etc.

Em definitiva, o galego fácil tem demonstrado nas últimas décadas que só é capaz de reforçar a depauperização da nossa língua, a sua dialetalização no castelhano. Se a isto somamos as políticas linguicidas do governo com a proibição das ciências em galego e outras genialidades, só podemos concluir que, ainda que a transmissão entre gerações esteja a falhar, os demais pontos que deveriam somar para o galego não se perder estão a atuar em sentido contrário. Cumpre mudar os maus hábitos abrindo novos caminhos, cumpre experimentar antes do que manter rotinas devastadoras. O único caminho é mudar as políticas linguicidas e alterar ou mudar as instituições linguísticas para fazermos mudanças relevantes que nos permitam recuperar o galego. Menos galego fácil e mais galego nosso, com a dificuldade que é aprender mais uma língua, nem fácil nem difícil, nosso.

Aviso legal · Política de privacidade · Política de cookies · Condicións do servizo · Normas para o usuario