Para nos fazermos ouvir, fazermos futuro.

Dizia minha avó, que em paz descanse, “não te signifiques”, chegada a hora das eleições. Ela queria dizer, como pudestes entender, “que ninguém saiba a quem é que ides votar”. Um silêncio ante o medo de acharmos o nosso lugar reduzido por uma ideologia, por um pensamento, por uma escolha. O medo da não aprovação ante uma maioria social.

Pois bem, para nos fazermos ouvir, temos de nos posicionar, temos de ser conscientes da nossa situação e obrar em consequência. Não podemos ter a constante preocupação de se todo o mundo vai aceitar o caminho que achamos junto e necessário. Temos de ter confiança e fôlegos a bondo para carregar com as nossas decisões.

A nossa história social, literária, tem demonstrado que existe um ciclo constante no tempo, que somos uma constante repetição. Os movimentos sucedem-se em confronto com movimentos anteriores, as tradições são conservadas, modificadas ou desaparecem. Com isto queremos dizer, que sermos rebeldes e nos fazermos ouvir é a nossa natureza.

Pode que durante a nossa história tenhamos perdido muitas vezes, pode que a constante derrota que nos atribuem os que escrevem os livros de texto onde aprendemos quem fomos, determina o que somos e o que seremos, mas não tem de ser assim. Devemos acreditar num futuro onde as nossas escolhas façam a diferença, onde sejamos capazes de materializar os nossos desejos.

Se algo temos de aprender da nossa história, é que um evento pode alterar a nossa perceção do mundo, pode mudar os limites geográficos, os limites linguísticos, o estado económico e social. Nós somos a nossa história e estamos a escrevê-la com cada juízo, com cada deliberação. Não podemos permitir que nos calem e que nos tirem o direito a fazermos futuro.

Se ainda acreditamos em que somos donos e não servos da nossa sina, se ainda praticamos o livre exercício da crítica, se ainda somos capazes de questionar o nosso estado, se ainda mantemos a esperança, se ainda temos aços para nos manter erguidos ante a chuva que nunca se apaga, teremos um amanhã. Só não teremos um amanhã se acharmos que somos os vencidos, os sem voz, os sem terra, os sem língua.

Aqui e agora, acreditais no nosso, no vosso futuro? É o momento de nos significar, porque não semantizar a nossa existência é o mesmo que não tê-la, é o mesmo do que não ser. Sejamos para sermos, sejamos para ter futuro.

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