Publicando

Não tenho tempo a nada, nem a descansar. Há uns dias saiu do prelo o meu primeiro livro de poemas Estado Demente comrazão. Tenho medo do seu insucesso. Foram longas as horas a escrever e reescrever os versos. Chegarão a algum lugar? Serão compreendidos? Acho que é necessária uma grande dose de tortura para achar o significado mais profundo das palavras. Enfim, deixarei que as leitoras achem algo sob a sintaxe.

O Doutoramento avança devagar, mas avança. Fiz descobrimentos interessantes e mesmo relevantes para a nossa literatura. O trabalho, dalgum modo, está a dar os seus frutos. Achei um poemário inédito do senhor Carvalho e muitos poemas que também nunca foram publicados. Acho que quando tiver acabado o trabalho, há ficar algo digno de se publicar. Aliás, já me ofereceram publicá-lo sem o ter findando, portanto intuo que sim pode ser de interesse.

Enfim, oxalá pudesse escrever mais o que se passa na minha vida, mas dedico as horas a ler e escrever sobre questões relacionadas com o Doutoramento, o concurso público e coisas do tipo. Gostaria de findar algo e poder descansar. Porém, sempre há algo por fazer e poucas pessoas atentas e com vontades de transformar as ideias em factos. Chegará o meu descanso nalgum momento, nas não vai ser agora.

Fluxo de lava

Para nos queimarem mais a cabeça, entre inventos e decalques do castelhano, colocam os senhores da RAG “coada de lava” em cada noticiário. A analfabetização dos poucos galegos que utilizam a sua língua é cada vez mais notória. Ouvi, há pouco tempo, mais uma palavra que não deixa de ser um hipergaleguismo ou hiperenxebrismo, “compoñente”. Era sistematicamente repetida por um dos académicos da RAG num congresso. Porém, utilizar esta palavra é o mesmo que utilizar “oficiña” ou semelhantes, uma barbaridade. É claro que os termos devem ser COMPONENTE e OFICINA. Aliás, não temos “coadas de lava”, mas FLUXO DE LAVA. Tenho certeza de que podem haver mais possibilidades para este último termo e infinitamente mais ajeitadas do que escolheram os da RAG. Infelizmente, continuam a incumprir as normas da sua academia, evadindo o achegamento com as variantes da nossa língua e criando/favorecendo o castrapo e a substituição linguística.

Obviamente, devemos entender “compoñente” como derivado de “poñer”, notório achegamento a “poner” (castelhano) e evitando o tradicional “pôr” (ou “pór” na norma da RAG). Mais uma vez estão a afastar o galego das suas variedades, escolhendo formas mais próximas do castelhano e que facilitam a perda do galego. A preferência deveria ser PÔR e deste, COMPONENTE. O galego, para sobreviver, não pode tomar como referente a língua que o está a fazer desaparecer, mas as variedades portuguesas que gozam de boa saúde. O trabalho da RAG funciona como acelerador da natural substituição linguística e só consegue atrapalhar as tentativas de restauro da nossa língua.

Encontrar, atopar e achar

Uma mania palpável na sociedade galega é a de utilizar somente uma palavra tendo diversos sinónimos totais ou parciais. Um exemplo disto é “atopar”, uma forma potenciada pelo ILG na escrita galega, ignorando outras formas populares como encontrar ou achar.

A nossa recomendação é utilizar “encontrar” quando acharmos algo que estávamos a buscar. Por enquanto, “atopamos” uma coisa quando esta aparece por acaso. Por exemplo, “Ia pela rua e atopei uma moeda”. Finalmente, o caso de “achar” é mais genérico e pode ter um uso mais estendido: “Achei-me indisposto ontem à noite, pois não consegui fazer a digestão”, “Acho que estás equivocado, porque eu fiz as contas e davam outro resultado”, “Achei uma cheia de erros no teu texto” etc.

A reiteração de determinadas palavras empobrece a nossa língua e dificulta a comunicação com o resto de variedades com um uso normalizado e normal. Para recuperarmos a nossa língua, devemos conservá-la do melhor jeito possível, sem esquecer a enorme variedade de sinónimos que temos.

Revitalizarmos o galego

Cumpre fazermos quatro coisas para revitalizar o galego dentro do ensino:

1- Atualizar a matéria e fazer do galego uma língua moderna (menos folclorismo e mais novas tecnologias).
2- Valorizar mais o esforço e o trabalho da oralidade nas aulas. Aliás, tentar tirar o medo do alunado para se comunicarem publicamente, diante dos seus companheiros e companheiras.
3- Português obrigatório e lecionado como reforço do galego. Isto é, fazer das unidades didáticas de português uma continuação das de galego.
4- Pôr os computadores e o seus software em português, para que o alunado não tenha de fazer as pesquisas diárias na rede em castelhano. O alunado não é parvo, com explicar como funcionam G, J e Ç está tudo feito. Posso dar fé que em pouco mais de um dia têm o tema controlado.

Deste modo, teremos mais aulas da nossa língua, as competências aumentarão, o repasso e ampliação da matéria serão possíveis… O alunado terá mais oportunidades e recuperaremos as horas de galego que nos tirou o nacionalismo espanhol.

Este é o único caminho possível para trabalhar num galego com futuro. Menos exercícios obsoletos e testes e mais falar e modernizar-se. Uma língua que não é capaz de se adaptar ao passar do tempo, morre, é um ritual que vai perdendo o sentido.

GALEGO COM ORTOGRAFIA CASTELHANA

“Verdadeiramente, que escrevamos galego coa ortografia castelhana, só se pode explicar por razons históricas. Mesmo caberia defender esse tipo de ortografia em escritos dirigidos a um público formado na ortografia castelhana.

Emporisso, semelha falto de toda lógica o feito de alguns escritores empregarem a ortografia castelhana em escritos publicados em Portugal, criando dificuldades de impressom e leitura. Se esses escritores crem que essa ortografia é umha ortografia galega, estám mal informados. E como em Espanha utilizam a ortografia castelhana em honor dos alfabetizados em espanhol, deveriam empregar em Portugal a ortografia portuguesa em honor dos alfabetizados em português.”

Ricardo Carvalho Calero – De fala e da escrita.

Colonização linguística, uma praga

O galego e a decadência institucional a nível político e linguístico poderiam ser objeto de demoradas considerações, suficientes para elaborar um livro. O curioso e vergonhento é ler como até membros da Academia Gallega, demonstrando um exercício de liberdade e decência, decidem denunciar o evidente. Isto é, a manipulação e abuso de poder exercidos pelos organismos normativizadores da língua galega desde há décadas.

Cumpre deixar neste blogue mais um exemplo de denúncia ante a injustiça, ante o brinquedo que é o galego para os hipócritas que vivem dele e que se nutrem das subvenções enquanto o deixam morrer de inanição. Bem o sabia e o anunciava Carvalho Calero… Obrigado pela honestidade, caro Axeitos:

https://www.nosdiario.gal/opinion/xose-luis-axeitos/cousas-da-academia-viii-abrazo-historico/20201207075503110904.html

Galego fácil, o galego em castelhano

A escrita do galego que promove a Junta da Galiza, em concordância com a Academia Gallega, toma como base o castelhano. Isto longe de ser discutível, é um facto mais do que assente. A dissolução do galego no castelhano desde as instituições está em andamento desde a década de oitenta e as ideias que servem como escudo ante esta atrocidade linguística é:

– Língua que há que saber = castelhano.
– Se o povo sabe castelhano, o galego deve tomar este como referente à hora de se escrever.
– É mais fácil ensinar galego se tomarmos como base uma língua que tem de saber o povo, o castelhano.
– O povo galego é incapaz de escrever na sua língua se este tem uma norma de seu, deixando o castelhano para um lado.
– O galego é uma língua de Espanha, antes castelhano do que português.

Alguma destas ideias foi pronunciada por membros de Instituto da Lingua Galega no seu momento. Que podemos tirar em conclusão destas genialidades?

– O galego é uma língua de segunda, o importante é o castelhano.
– O galego não tem direito a ter uma norma não subjugada ao castelhano por teimas dos normativizadores, cuja ideologia/identidade está colocada no púlpito de Espanha e não com os pés na terra e o coração na Galiza. É dizer, que quem manda e ordena não quer nada bom para o galego, pois através da sua óptica filtra o que o povo completo deve acatar. E esta, longe dos caminhos filológicos, alicerça-se em ideias individuais e preconceitos vários.
– As galegas e galegos são ignorantes incapazes de aprenderem a sua língua própria sem recorrer ao castelhano, mas depois têm aulas de francês ou inglês, entre outras, cujas ortografias e gramáticas distam muito das do castelhano. Será que os que estabelecem as normativas têm amores grandes à língua de Cervantes e deixam de lado a própria, a que supostamente deveriam defender? Se as autoridades linguísticas seguem o mesmo caminho das políticas linguicidas espanholas, u-lo futuro do galego? Que sentido tem seguir as ordens destas autoridades que restam valor ao património que deveriam defender?
– Parece ser que o galego tem de tomar como referente o castelhano, a língua que o está a fazer desaparecer e cuja hibridação tem como resultado uma dialetalização nesta segunda língua. Desde um ponto de vista sociolinguístico a proposta mantida pela Academia Gallega é absolutamente contraditória. Defender sob a dialetização e a secundarização da nossa língua? Fazer escolhas que todos temos de obedecer tomando como referente o castelhano e fugindo de soluções comuns ao resto do nosso romance?
– O ódio ao português e a Portugal ante uma história de separação secular do ponto de vista político faz que a opressão por parte da Velha e da Nova Castela fique numa posição próxima à santidade. Será que é melhor odiar a quem se separou de nós mais do que os que nos “domaram e castraram”? Quem atinge os lugares hegemónico-institucionais está mais próximo do colonizado que quer converter a sociedade numa extensão da sua extinção como nativo numa identificação forânea e defensora de valores externos ou existe outra opção? O ódio ao próximo no cultural e linguístico é compatível com a adoração do estrangeiro colonizador e explica o porquê das escolhas linguísticas no referente ao léxico, ortográfico etc.

Em definitiva, o galego fácil tem demonstrado nas últimas décadas que só é capaz de reforçar a depauperização da nossa língua, a sua dialetalização no castelhano. Se a isto somamos as políticas linguicidas do governo com a proibição das ciências em galego e outras genialidades, só podemos concluir que, ainda que a transmissão entre gerações esteja a falhar, os demais pontos que deveriam somar para o galego não se perder estão a atuar em sentido contrário. Cumpre mudar os maus hábitos abrindo novos caminhos, cumpre experimentar antes do que manter rotinas devastadoras. O único caminho é mudar as políticas linguicidas e alterar ou mudar as instituições linguísticas para fazermos mudanças relevantes que nos permitam recuperar o galego. Menos galego fácil e mais galego nosso, com a dificuldade que é aprender mais uma língua, nem fácil nem difícil, nosso.

Dialetalismos e Diferencialismos

Devido à fragmentação dialetal do galego produzida pelo isolamento da população galega a respeito da portuguesa e, simultaneamente, das diversas localidades galegas entre si, a fala das diferentes zonas segue um rumo diferente, heterogéneo.

Enquanto Portugal estudava a sua língua e elaborava as suas normas (primeira gramática datada no século XVI), a Galiza, sem rei nem autonomia política de si, fica sem normativizar o galego até a década de 70 do século XX. Isto, sem obviar a censura linguística e o silêncio imposto durante séculos pelos que nos conquistaram e governaram. Como não é este o lugar para falarmos desta história, cujas origens e desvios pertencem ao campo da historiografia, continuaremos, pois, com o relevante e fundamental desta lição.

O galego sobrevive graças ao uso que lhe davam classes baixas, pois as altas foram substituídas ou se ajoelharam ante o poder estrangeiro que os dominara, esquecendo a língua dos seus antigos. Esta gente, à que lhe temos de agradecer termos, de momento, língua própria, mantinha em cada lugar as suas formas tradicionais e certas derivas que se deram com o passar do tempo. Isto é, cada zona tinha -e tem- léxico próprio, formas sintáticas, pronúncia etc. O que acabamos de afirmar cumpre-se tanto dentro da Galiza com as variedades internas, como com as externas fora dos limites geográficos da atual Galiza.

As teimas dos que tomaram o poder da normativização do galego e que se estabeleceram no poder institucional, impondo o seu critério e não atendendo a conselhos nem opiniões externas fora do seu círculo, decidiram preferenciar determinado léxico, determinada morfologia etc. É dizer, um modelo de galego segundo as suas preferências pessoais. Este galego consiste em escolher, sempre que puderem, palavras que só existam na Galiza. Isto é, de termos 5 termos galegos e de partilharmos 3 com o resto de territórios supranacionais, eles escolhem os dois diferentes. Este tipo de atitude, somada ao medo das pessoas de cair em castelhanismos, levam ao uso preferente e excessivo de diferencialismos. Os diferencialismos são palavras, neste caso galegas, que não coincidem com o galego falado no resto do mundo, só próprias de certos lugares da Galiza ou da sua prática totalidade.

Para pormos alguns exemplos e compreender o que acontece:


Dedicar/adicar: “Dedicar” é o verbo com mais sucesso dentro e fora da Galiza, tanto dentro do nosso romance, como no vizinho (castelhano). Ao existir a forma adicar, ainda que minoritária, muitas pessoas tendem a utilizá-la por medo a que “dedicar” seja um castelhanismo, quando não o é.
Desde/dende: Neste caso, ambas as formas são totalmente galegas, mas há um uso preferente da forma “dende” por cima de “desde”, podendo levar aos utentes da nossa língua a cair no problema anteriormente mencionado. É necessário informar e eliminar dúvidas deste tipo. O uso de qualquer destas formas é totalmente válido. Porém, também é necessário salientar que “dende” é uma forma que unicamente se utiliza na Galiza, por enquanto, “desde” é a utilizada no resto de países que falam a nossa língua e mesmo tem uso no romance central.
Raposo/golpe: Para os que não morem na zona de Lugo onde se utiliza “golpe”, o habitual é utilizarmos a forma “raposo”. Esta, para além de muito viva na oralidade, ainda faz parte de antropónimos. A primeira das palavras é utilizada por todos os utentes da nossa língua, a segunda por alguns muito específicos, como era o caso de “adicar” antes de se estender. Ambas as formas são corretas, mas quem utilize a segunda, deve saber também da existência da segunda e que esta é utilizada no resto do mundo. Não é bom deixar de utilizarmos uma forma por não ser coincidente se é o que está vivo na nossa zona, mas também não é bom desconhecer o que se passa fora da nossa casa.

Os dialetalismos são palavras próprias de zonas específicas da Galiza ou do resto de países que falam na nossa língua. A questão é que, como as instituições da Galiza querem viver das subvenções e outros lucros, não podem admitir que as demais variedades da sua língua são tal. Por isso dizem que estamos ante línguas diferentes. Em lugar de lhe chamar dialetalismos as formas próprias de zonas de Portugal, por exemplo, eles chamam-nas de “portuguesismos” ou “lusismos”, estabelecendo uma barreira política por meio, como se as línguas atendessem a critérios geográficos e não filológicos. De querermos criar barreiras, poderíamos também falar de “lugosismos”, “ourensanismos” ou mesmo “marinhismos”, já que estamos.

Em conclusão, qual é a diferença entre diferencialismos e dialetalismos? De fazermos esta questão, devemos reparar no anteriormente comentado. Há léxico em comum com todos os países da nossa fala, com uma coincidência que excede o 90% e temos menos de um 10% de palavras exclusivas galegas. Esse 10% de palavras são os diferencialismos a respeito da nossa língua em toda a sua abrangência e, dentro desse número pequeno de palavras, estão os dialetalismos próprios de cada zona. É negativo usar diferencialismos ou dialetalismos? Não, obviamente não o é, é positivo porque conservamos o acervo linguístico. Porém, é necessário refletirmos sobre a língua e depararmos em que, se saímos de casa, vamos ter de mudar certas formas próprias da nossa zona. Isto não ocorre só na Galiza, mas de visitarmos Portugal, o Brasil, ou qualquer outro sítio que tenha outra variedade linguística. É por tudo isto que a língua galega deveria de ser ensinada como o que é, uma enorme língua sem limites geográficos, uma língua diversa e variada, útil e necessária, tanto para nos comunicarmos entre nós, como para nos comunicar com pessoas fora do nosso círculo habitual.

Conhecermos a nossa língua dá-nos poder e permite-nos fazer escolhas à hora de falarmos ou escrevermos, ajeitando-nos a situações e lugares. Neste sentido, sabendo qual é o uso habitual das nossas palavras serve para melhorar a nossa comunicação, os nossos conhecimentos e amplia muito o nosso léxico, para além aprendermos estruturas sintáticas comuns noutras zonas ou mesmo que se estão a perder em galego, já que a proximidade do castelhano também está a afetar às estruturas sintáticas da nossa língua. Infelizmente, não há ser esta publicação na que fale deste outro tema. Abramos a nossa mente, façamos caminho e futuro.

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